Logo Criança e Consumo
Foto de vários ovos de chocolates embrulhados em papeis multicoloridos.

Estamos cansados! Na Páscoa, anunciem para adultos.

Foto de vários ovos de chocolates embrulhados em papeis multicoloridos.

Estamos cansados! Na Páscoa, anunciem para adultos.

Campanha de Páscoa #AnunciaPraMim é um esforço para dar voz à insatisfação da sociedade com a publicidade de alimentos não-saudáveis direcionada a crianças

Nos canais de comunicação do Criança e Consumo é comum o recebimento de mensagens pedindo para que façamos algo a respeito de ovos de chocolate com brinquedos. E, diante de cada uma delas, vale lembrar da frase do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Herman Benjamin acerca da proibição do assédio mercadológico da indústria de produtos alimentícios às crianças: ”Não se trata de paternalismo sufocante nem moralismo demais, é o contrário: significa reconhecer que a autoridade para decidir sobre a dieta dos filhos é dos pais. E nenhuma empresa comercial e nem mesmo outras que não tenham interesse comercial direto, têm o direito constitucional ou legal assegurado de tolher a autoridade e bom senso dos pais”.

O ministro acertou em cheio porque, ainda que o livre mercado seja um princípio Constitucional, não vale tudo para vender. Assim, o magistrado inverteu a lógica de quem acredita que o Estado, ao impedir a publicidade a crianças, estaria cerceando a liberdade das famílias. Não, veja bem, quem está intervindo na formação das crianças e retirando o direito das famílias decidirem são as empresas, que insistem nessa prática irresponsável, antiética e ilegal de direcionar publicidade a crianças, às custas de muito dinheiro.

A publicidade direcionada a crianças é ainda mais incômoda para as famílias quando se trata de incentivo ao consumo de produtos alimentícios ultraprocessados com alto teor de sódio, açúcar e gordura. Não à toa, sete em cada dez brasileiros se disseram contrários, totalmente ou em parte, à publicidade de refrigerantes e salgadinhos direcionada a crianças, conforme mostrou pesquisa DataFolha, encomendada pela ACT – Promoção da Saúde. Na ocasião, 60% dos entrevistados se disseram contra toda a publicidade que se dirija aos menores de 12 anos.

Foi em razão da opinião pública que criamos a campanha #AnunciaPraMim nesta Páscoa. O objetivo foi abrir espaço para as famílias se manifestarem diretamente às empresas, por meio de envio de carta virtual ao Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC), estressando a relação entre publicidade infantil e o aumento da obesidade, e lembrando da abusividade de tal prática pelas normas vigentes no país.

Mas a potência do pedido está também na proposta de reformulação do modelo atual de publicidade. Diferentemente do que pessoas mal intencionadas e incapazes de debate franco fazem entender, impedir a publicidade direcionada a crianças não significa o fim da publicidade de produtos infantis. Trata-se apenas de um ajuste, mas que faz toda a diferença: a publicidade deve ser feita por adultos com foco em adultos, por isso o nome da campanha #AnunciaPraMim.

Em dez dias, a campanha enviou um total de 288 cartas de pessoas comuns pedindo um basta à publicidade dirigida a crianças.

A empresa que recebeu mais cartas foi justamente a Ferrero, fabricante do Kinder Ovo (24,6% do total). A prática de colocar brinquedo dentro de ovo de chocolate está no centro do debate de publicidade para crianças na Páscoa. Essa posição da Ferrero no ranking, demonstra o descontentamento das pessoas com a prática. Esta estratégia, se não leva a prejuízos na alimentação das crianças, gera intenso estresse familiar uma vez que mães, pais e responsáveis ficam isolados em repetidas negativas.

Em segundo lugar, ficou a Nestlé (20,8% do total), que assim como a Ferrero tem diversos ovos acompanhados de brinquedos, com embalagens estampadas com personagens infantis.

Em terceiro lugar ficou a Lacta, com 13,8% das reclamações. A empresa também fez oferta de ovos de Páscoa com brinquedos e com embalagem para atrair crianças. Mas foi além, realizou atividades para crianças, em espaço público, deixando sua marca em evidência.

Essas empresas precisam parar. Para reforçar o pedido de mães, pais e responsáveis, a área jurídica do programa enviou, em 17.4.2018, cartas a todas as empresas que receberam reclamações, apresentando a campanha e seus resultados e colocando-se à disposição para esclarecimentos acerca das influências de ações de comunicação mercadológica no processo de desenvolvimento biopsicossocial das crianças.

 

Publicado em: 26 de abril de 2018

Notícias relacionadas

Listar todas as notícias

Ir ao Topo