{"id":28541,"date":"2021-07-08T16:06:18","date_gmt":"2021-07-08T19:06:18","guid":{"rendered":"https:\/\/criancaeconsumo.org.br\/?p=28541"},"modified":"2022-10-17T14:21:23","modified_gmt":"2022-10-17T17:21:23","slug":"crianca-precisa-se-frustrar-mas-o-consumismo-impede-isso","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/criancaeconsumo.org.br\/noticias\/crianca-precisa-se-frustrar-mas-o-consumismo-impede-isso\/","title":{"rendered":"Crian\u00e7a precisa se frustrar, mas o consumismo impede isso"},"content":{"rendered":"
Pode at\u00e9 parecer estranho, de fato, mas aprender sobre frustra\u00e7\u00e3o deve fazer parte da inf\u00e2ncia para um desenvolvimento pleno. De acordo com Cesar Ibrahim, psicanalista mestre em psicologia, a crian\u00e7a precisa se frustrar. Cesar explicou, nesta entrevista concedida ao Crian\u00e7a e Consumo em 2010*, que a fantasia da felicidade constante, ideia muito vendida pela publicidade, pode ser extremamente nociva \u00e0 sa\u00fade emocional infantil<\/strong>.<\/p>\n <\/p>\n Ibrahim atende crian\u00e7as, jovens e adultos desde que iniciou sua carreira com atendimento de terapia familiar. Al\u00e9m disso, o psicanalista participa de atividades em universidades, com educadores e outros profissionais que lidam com o p\u00fablico infanto-juvenil. Cesar pesquisa principalmente sobre forma\u00e7\u00e3o de crian\u00e7as em uma cultura que exacerba a fantasia da vida excepcionalmente feliz e indolor<\/strong>.<\/p>\n <\/p>\n Cesar Ibrahim – A quest\u00e3o do consumo aparece, mas n\u00e3o de maneira t\u00e3o direta. Entretanto, o consumismo est\u00e1 presente o tempo todo na rela\u00e7\u00e3o do jovem com o mundo<\/strong> e de diversas formas. Os tempos atuais, ditos como mais hedonistas, marcaram por completo a rela\u00e7\u00e3o da fam\u00edlia com os filhos. Privilegia-se, quase o tempo inteiro, a rela\u00e7\u00e3o das crian\u00e7as e dos adolescentes com o prazer. Sendo assim, a preocupa\u00e7\u00e3o fundamental dos pais de classe m\u00e9dia, principalmente nos centros urbanos do mundo ocidental, \u00e9 a felicidade dos filhos, ou melhor, a ideia do que \u00e9 felicidade.<\/p>\n <\/p>\n CI – De maneira geral, essa marca da cultura est\u00e1 diretamente ligada ao imediatismo do prazer. Isso, \u00e9 claro, vai se desdobrar na rela\u00e7\u00e3o com o consumo<\/strong>. O desejo tende a ser satisfeito sob essa forma materializada, que tem um movimento compulsivo \u2013 j\u00e1 que, na verdade, ela \u00e9 insaci\u00e1vel. O jovem, que troca o tempo todo o seu objeto de desejo, no fundo persegue a fantasia idealizada de que haver\u00e1 uma forma de obter prazer quase sempre com car\u00e1ter imediato. Como se isso pudesse, de fato, compor essa pseudo felicidade. O processo funciona como se fosse uma miss\u00e3o que os pais atribuem a si mesmos para proporcionar uma exist\u00eancia quase analg\u00e9sica aos filhos, ou seja, uma exist\u00eancia indolor, que n\u00e3o inclui a frustra\u00e7\u00e3o.<\/p>\n <\/p>\n CI – Um exemplo frequente \u00e9 a vontade de trocar de celular, novos produtos eletroeletr\u00f4nicos ou qualquer outro objeto de consumo. Essa vontade se coloca a servi\u00e7o dessa ideologia. De fato, os pais est\u00e3o, a princ\u00edpio, muito bem-intencionados, querendo promover a felicidade dos filhos a todo custo. Mas eles n\u00e3o sabem o que fazer e nem como fazer. Os pais acreditam que, se puderem fazer os filhos atravessarem a inf\u00e2ncia sem dor, sua miss\u00e3o ser\u00e1 cumprida. No fundo, sabemos que \u00e9 exatamente o contr\u00e1rio. Para crescer, crian\u00e7a tem que frustrar<\/strong>. Portanto, eventualmente, o desejo deve, sim, ser barrado. Sobre esse assunto, temos o ponto de vista material tanto quanto o ponto de vista emocional, amoroso.<\/p>\n <\/p>\n CI – A escola est\u00e1 cada vez mais articulada nessa necessidade de frustrar, principalmente pela recorr\u00eancia desse assunto. Existe o comprometimento de mostrar que a vida acad\u00eamica exige muita dedica\u00e7\u00e3o e ren\u00fancia ao prazer imediato, por exemplo. Freud ressaltava muito a import\u00e2ncia de a pessoa renunciar o movimento na dire\u00e7\u00e3o do desejo para poder crescer<\/strong>. Nesse sentido, \u00e9 preciso mostrar ao jovem que a ren\u00fancia fortalece e projeta o ser humano para o seu desenvolvimento.<\/p>\n <\/p>\n CI – Sim, existe. Isso \u00e9 parte integrante do desenvolvimento. \u00c9 o que chamamos de trip\u00e9 da modernidade: fama, beleza e riqueza. O jovem quase sempre busca ser o popular, o bacana, constituir identidade pr\u00f3pria. \u00c9 nesse meio em que ele encontra o seu par. A partir de quem ele busca aceita\u00e7\u00e3o e vai constituir a sua identidade e a trajet\u00f3ria a ser seguida. Nesse aspecto, as subst\u00e2ncias qu\u00edmicas, por exemplo, revelam o sintoma social do prazer imediato. Resta saber como a pessoa vai agir diante disso. A quest\u00e3o do consumismo<\/strong> constitui essa busca da humanidade na dire\u00e7\u00e3o de estabelecer uma rela\u00e7\u00e3o plena com o prazer absoluto.<\/p>\n <\/p>\n Como Ibrahim afirmou nessa entrevista, a crian\u00e7a precisa se frustrar. Por\u00e9m, \u00e9 um mito acreditar que a publicidade infantil possa possibilitar esse aprendizado. O que acontece \u00e9 exatamente o contr\u00e1rio. Os an\u00fancios direcionados aos pequenos, podem lev\u00e1-los a acreditar que \u00e9 preciso consumir para ser completo e feliz<\/a>. A crian\u00e7a acaba aumentando a quantidade de pedidos insistentes para que seus respons\u00e1veis comprem o que foi anunciado a ela. E n\u00e3o basta achar que um simples “n\u00e3o” de m\u00e3es, pais e familiares, encerram o assunto. N\u00e3o \u00e9 essa a frustra\u00e7\u00e3o, consequ\u00eancia de um desejo de consumo criado por interesses comerciais, que a crian\u00e7a precisa<\/strong>. Por isso, a publicidade infantil \u00e9 uma pr\u00e1tica anti\u00e9tica, al\u00e9m de abusiva e ilegal! As crian\u00e7as precisam, sim, aprender sobre frustra\u00e7\u00e3o, mas de maneira natural e com educa\u00e7\u00e3o, n\u00e3o lidando precocemente com est\u00edmulos publicit\u00e1rios.<\/p>\n <\/p>\n *Confira a \u00edntegra desta entrevista, que faz parte do Crian\u00e7a e Consumo Vol.7 – Estresse Familiar<\/a>.<\/p>\n <\/p>\n Desvendando alguns impactos da publicidade infantil<\/a><\/p>\nCrian\u00e7a e Consumo – Temos, hoje, muitos problemas na forma\u00e7\u00e3o da crian\u00e7a decorrentes do consumismo, incentivado em nossa sociedade de diversas formas. O consumo \u00e9 um assunto relevante nos grupos que voc\u00ea atende?<\/strong><\/h2>\n
CeC – Que impacto essa preocupa\u00e7\u00e3o excessiva em fornecer felicidade aos filhos pode ter no desenvolvimento infantil j\u00e1 que a crian\u00e7a precisa se frustrar?<\/strong><\/h2>\n
CeC – Voc\u00ea pode dar exemplos dessa rela\u00e7\u00e3o entre a busca da felicidade e o consumo?\u00a0<\/strong><\/h2>\n
CeC – Na sua opini\u00e3o, existe, no ambiente escolar, a preocupa\u00e7\u00e3o em ensinar a lidar com o fracasso?<\/strong><\/h2>\n
CeC – Em seu trabalho nas escolas, existe tamb\u00e9m a quest\u00e3o do pertencimento. O jovem quer se sentir parte de algum grupo. Ele acaba acreditando que a posse de bens ou o comportamento pode influenciar isso?<\/strong><\/h2>\n
A publicidade infantil n\u00e3o ensina sobre frustra\u00e7\u00e3o saud\u00e1vel<\/strong><\/h2>\n
Leia tamb\u00e9m<\/strong><\/h2>\n