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Foto de bonecos de crianças subindo em caixas coloridas

Unboxing: crianças fora da caixa

Foto de bonecos de crianças subindo em caixas coloridas

Unboxing: crianças fora da caixa

As estratégias de publicidade e comunicação mercadológica dirigidas a crianças são um empreendimento rentável e bem-sucedido. Se a publicidade infantil não funcionasse e influenciasse, não veríamos tantos anúncios voltados a esse público espalhados por aí. Isso inclui escolas, parques públicos, canais de TV, aplicativos, pontos de venda e redes sociais, espaço onde acontece uma prática chamada unboxing.

infográfico que mostra a audiência infantil no YouTube com texto que diz "crianças foram responsáveis por 52164 bilhões de visualizações de vídeos no YouTube até setembro de 2016. entre essas categorias, unboxing cresceu 975% de audiência entre 2015 e 2016, seguida pela categoria youtuber mirim, com 564% de expansão e tv com 171%"

Crianças na internet

Segundo a pesquisa TIC Kids Online 2017, 74% das crianças de 9 a 10 anos e 82% entre crianças de 11 a 12 são usuárias de internet no Brasil. Sobre o uso, 84% das crianças de 9 a 10 anos assistem a vídeos, programas, filmes ou séries.

Ao mesmo tempo, foi feito um estudo sobre consumo e produção de conteúdo para crianças no YouTube, realizado pelo ESPM Media Lab. O levantamento indica que, até o fim de 2017, a audiência do conteúdo voltado ao público infantil na plataforma ultrapassou os 115 bilhões de visualizações. Entre os 100 canais de maior audiência no YouTube Brasil, mais da metade traz conteúdos voltados e/ou consumidos por crianças.

Por isso, não é possível afirmar ser coincidência ou obra do acaso que, atualmente, um dos modelos mais adotados por empresas para direcionar publicidade a crianças sejam vídeos de unboxing produzidos por youtubers mirins.

Nesses canais, via de regra, o youtuber mirim publica conteúdos lúdicos e divertidos que fazem parte do universo infantil. Por exemplo, brincadeiras de faz de conta, desafios, organização do material escolar, novelinhas e outras atividades cotidianas. São vídeos assistidos, repetidamente, por milhões de crianças.

As empresas estão cientes do interesse das crianças por esses canais e da enorme visibilidade, impacto e influência que os youtubers mirins exercem. Assim, passaram a enviar presentes a esses influenciadores digitais, convidando-os a promover, de maneira velada, produtos e mais produtos em seus canais e redes sociais.

Unboxing e consumismo infantil

Os vídeos de abrir e apresentar brinquedos se confundem com os demais conteúdos produzidos pelos youtubers mirins. A linha entre anúncio e entretenimento é quase imperceptível, até para um adulto. As empresas sabem disso e fazem questão de tirar proveito dessa zona cinzenta.

Dessa forma, a indústria se vale de um espaço de comunicação e entretenimento para promover sua marcas e produtos. Ela se aproveita da relação de confiança que se estabelece entre a criança produtora de conteúdo e a espectadora. Assim, os youtubers mirins acabam por veicular publicidade abusiva e ilegal dirigida ao público infantil.

A eficácia das estratégias de marketing e publicidade é um dos fatores centrais para explicar o consumismo da sociedade moderna. E o estímulo ao consumo excessivo e desenfreado tem feito parte da cultura do YouTube. Nos parece óbvio, então, que essa intensa manifestação de consumismo esteja afetando boa parte das crianças. Afinal, esse público acompanha os canais de unboxing e de youtubers mirins e teens.

Assim, os vídeos de unboxing criam demandas e acabam por incutir nas crianças o desejo de consumo do que está sendo “anunciado”. Esse tipo de conteúdo cria crianças consumistas e materialistas e, possivelmente, insatisfeitas e infelizes, sempre em busca do próximo lançamento.

Artigo escrito por Livia Cattaruzzi, advogada do programa Criança e Consumo

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Publicado em: 15 de março de 2019

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