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Imagem promocional de um evento da revista Receio, com o desenho de várias crianças caminhando sobre um parque, a imagem descreve: Recreio no Parque. 2012. Dias 6 e 7 de outubro. Das 10 às 17 horas. Parque Vila-Lobos, em São Paulo.

Quem vai frear essa invasão?

Imagem promocional de um evento da revista Receio, com o desenho de várias crianças caminhando sobre um parque, a imagem descreve: Recreio no Parque. 2012. Dias 6 e 7 de outubro. Das 10 às 17 horas. Parque Vila-Lobos, em São Paulo.

Quem vai frear essa invasão?

Parques e áreas públicas de São Paulo vêm sendo invadidos por eventos cujo único objetivo é a comunicação mercadológica. Um artigo de Ladislau Dowbor, economista, doutor em Ciências Econômicas e professor-titular de pós-graduação da PUC-SP, e Gabriela Vuolo, coordenadora de mobilização do Instituto Alana, aponta o problema.

Há uma apropriação perversa ocorrendo na cidade de São Paulo: empresas vêm invadindo espaços públicos, disfarçando sua presença por meio de patrocínios e “eventos” – muitos dos quais criados exclusivamente para expor uma marca. Não estamos falando de um show de música, gratuito, que precisa de patrocínio para acontecer. Trata-se de algo criado, sob a alcunha de “entretenimento”, para vender. Quer um exemplo? Ao sair para um passeio no parque com seus filhos no final de semana, você poderá ser bombardeado por publicidade – todas com apelos aos pequenos. E isso, infelizmente, não é exagero.

No final de semana que antecedeu o Dia das Crianças, um evento de uma grande revista infantil, da maior editora do país, ocupou o Parque Villa Lobos, na Zona Oeste de São Paulo, com estandes e tendas de marcas variadas. Não havia uma única tenda montada no local que não fosse patrocinada, um único local onde a atividade proposta à criança não fosse relacionada aos produtos dos patrocinadores. Das 10h às 17h, sábado e domingo, quem visitou o parque foi obrigado a desviar das tendas, literalmente.

Todas as atividades, descritas como “divertidas” e “lúdicas”, envolviam a divulgação de um produto ou serviço. Mesmo no estande da própria revista, entre “oficinas de pintura” e “passatempos”, as crianças tiveram a incrível chance de conhecer os novos personagens que são distribuídos como brindes a quem compra a revista. É uma coleção, e nada melhor do que apresentá-la – em seus mínimos detalhes – nesse contexto, não é mesmo?

Muitas pessoas, em um primeiro momento, podem considerar essa exposição inofensiva. Mas comece a observar: quantas vezes seu filho pede um produto no supermercado que não faz parte dos hábitos da sua família? De onde ele tirou aquela suposta “necessidade”? Vale o mesmo para os brindes da revista: é claro que o hábito de leitura deve ser estimulado, mas é preciso atrelá-lo ao recebimento de um brinde, colecionável, que acaba sendo divulgado mais do que a própria revista? No final das contas, a criança quer a revista ou o brinde?

A apropriação do espaço público pelas empresas e corporações é um assunto polêmico. O evento era gratuito, alguns hão de dizer. De fato. Mas e a exposição da criança às marcas? Nesse caso, ainda pior do que o que acontece com a TV, não foi possível mudar de canal: as tendas estavam lá, e o passeio de uma família contrária a essa avalanche publicitária, que paga seus impostos em dia e deveria poder frequentar um parque tranquilamente, ficou ameaçado. Quem não gostou do “evento”, deveria ter feito o quê? Ir embora? Abrir mão do passeio? Fechar os olhos?

Qual é o papel de um parque, público, em uma cidade como São Paulo, com pouquíssimas opções de lazer gratuitas para a população? Qual é o direito de um cidadão, que paga seus impostos e se incomoda com essa invasão mercadológica em seu espaço de lazer? O debate nunca foi aberto, e a população, maior interessada no tema, não pôde opinar. Não seria o caso de uma consulta?

Publicado em: 22 de outubro de 2012

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