Como se não bastasse estimular o consumo excessivo, entre as consequências da publicidade infantil estão a erotização e adultização precoces. Sabemos que a publicidade costuma reforçar padrões de beleza (quase sempre inatingíveis) e representa mulheres de forma extremamente sexualizada. Então, quando falamos de meninas e publicidade infantil, infelizmente são elas as mais atingidas pelos efeitos dessas mensagens comerciais.
Segundo dados da organização Pretty Foundation
Representação das meninas e publicidade infantil
Não é raro ver meninas sendo representadas na mídia em papéis que não condizem com suas idades. Não apenas pelo modo que agem, mas também por usarem itens do universo adulto, como sapatos de salto e maquiagens. Além disso, algumas empresas ainda anunciam esses produtos diretamente para o público infantil, como se as meninas realmente precisassem deles. Entretanto, ao se deparar com tais anúncios, as crianças passam a acreditar que serão aceitas socialmente na medida em que reproduzirem esse comportamento.
E as meninas estão, cada vez mais cedo, sendo expostas a pressões estéticas por meio da publicidade. Como resultado disso, já percebido por pesquisas e levantamentos, crianças acabam se preocupando com seus corpos e aparências precocemente.
Empresas que praticam publicidade infantil não podem sair impunes
Um exemplo de como a publicidade infantil contribui para isso foi a campanha de 2009 da empresa de calçados Grendene. A ação publicitária mostrava quatro meninas passeando na rua e, enquanto isso, três meninos seguravam placas elogiando suas aparências físicas. Desde quando crianças devem ser avaliadas por seus corpos? Nós respondemos: desde nunca. E o efeito disso é levar à erotização e à adultização precoces. Este caso foi denunciado pelo Criança e Consumo e a empresa foi condenada e multada em R$ 3 milhões pela prática abusiva e ilegal de publicidade infantil.
A empresa Sestini, em 2017, também direcionou uma campanha publicitária para o público infantil, que impactava sobretudo as meninas negras. Além de reforçar valores consumistas e padrões de beleza, a publicidade também estimulava comportamentos racistas. A partir de uma denúncia do Criança e Consumo, da UNEafro e do Coletivo de Oyá, a Sestini firmou Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a Defensoria Pública de São Paulo e ainda pagou indenização pela prática ilegal.
Em suma, as empresas que insistem em anunciar seus produtos e serviços diretamente para as crianças, além de desrespeitar as leis, também estão desrespeitando a própria infância. Crianças devem ser livres para serem crianças. Chega de publicidade infantil!
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