Fazer as melhores escolhas para os filhos, na contramão dos apelos publicitários, estressa as mães. Especialmente aquelas com baixo poder aquisitivo
Ser mãe não é fácil. A responsabilidade de educar, alimentar e fazer as melhores escolhas pode pesar, especialmente quando a indústria da publicidade tenta cotidianamente influenciar as crianças a consumirem e se alimentarem mal, em flagrante prática abusiva. Para dar visibilidade a este sentimento de mães com relação à comunicação mercadológica dirigida a crianças, convidamos a Karoline Miranda, mãe do Gael, de 23 anos, estudante de História na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e de Jornalismo na Unicarioca, do Núcleo de Mulheres da História da Uerj e escritora do blog Uma Mãe Feminista para um desabafo público neste dia das mães.
“Estou fazendo minha lista de gastos para o mês.
Me pego fazendo a lista do mercado e decido: só vai ter fruta e biscoito maisena nessa casa esse mês. Dois minutos depois, vem Gael e me diz “mãe, cadê meu biscoito de morango? Já acabou”. E lá se vai minha firmeza… coloco dois pacotes de biscoito recheado na lista.
Acabada a lista do mercado, vem a lista de compras gerais. Peças de roupa que ele precisa, um material escolar que ficou faltando, e… puts, o aniversário dele. Não dei presente. E ele me pediu aquele boneco que viu na publicidade do intervalo comercial do desenho animado da tarde, e eu prometi que daria…
Se para quem tem poder aquisitivo para isso, o apelo do consumo infantil já é constante e difícil de acompanhar, imagine o quanto é massacrante para quem não tem. O conflito entre combater o consumismo infantil e o consumo excessivo versus estampar um sorriso de satisfação na boca do seu filho ou filha é algo muito mais complexo do que parece. Tentar dizer a si mesmo que nem tudo que a publicidade diz que é bom pra você realmente vai ter trazer satisfação pessoal é uma coisa… tentar dizer isso à uma criança bombardeada com todo esse conteúdo é outra.
É dia das mães – uma data extremamente consumista. E de presente eu só queria ganhar: paz. Paz de espírito de saber que se meu filho comer fruta ou maisena eu não vou ter a culpa assombrosa de não ter comprado o que ele mais gosta (mas que não tem valor nutritivo nenhum). De dar um livro no lugar dos bonecos mais incríveis, das camisas de personagens assombrosamente caras e não ter problema nenhum com isso. Quero ter a satisfação de deixar que meu filho faça as próprias escolhas… mas sem um pingo de culpa. E que eu não sinta essa culpa nem quando todos os comerciais de desenho me bombardearem dizendo que meu filho não é o mais radical. Ele é sim. E eu também.”
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