Direcionar mensagens comerciais para crianças traz, inegavelmente, uma série de prejuízos, e não só para os pequenos e as pequenas. Os impactos da publicidade infantil também afetam de fato o planeta, a sociedade e, mais diretamente, as famílias. É que, além de tudo, quando as marcas falam especificamente com o público infantil, elas interferem na relação entre mães, pais e responsáveis com seus filhos e filhas. E isso contribui para, principalmente, gerar ou acentuar o estresse familiar.

Para início de conversa, a publicidade infantil incentiva o desejo de consumo desde muito cedo. Uma das táticas usadas por empresas anunciantes é, por exemplo, transformar as crianças em promotoras de vendas dentro da família. A indústria sabe que é só convencer o público infantil a consumir determinados produtos e serviços que, consequentemente, serão pedidos incansavelmente para mães e pais. Esse comportamento tem até nome: fator amolação, ou nag factor, em inglês.

Pra conseguir, eu fico pedindo, fico pedindo, fico pedindo, choro, fico pedindo, fico pedindo, fico pedindo.” (menino, escola pública, Brasília)

Fonte: pesquisa , 2014, LabGrim-UFC

De fato, essa pressão consumista tem efeitos devastadores nas famílias. Além de desestabilizar as relações familiares, o incentivo ao consumismo infantil contribui ainda para o superendividamento dos pais e mães.

70% de mães e pais gastam mais quando vão ao supermercado junto com os filhos e 88% são influenciados pelos pequenos ao fazerem compras

Fonte: pesquisa Crianças Brasileiras, feita em 2019 pelo Instituto Locomotiva em parceria com a empresa Dotz

Ao contrário do que se imagina, um simples “não” muitas vezes é insuficiente para desmontar as estratégias perversas e milionárias do mercado publicitário direcionadas a crianças. E, aliás, chega a ser injusto deixar cuidadoras e cuidadores sozinhos para lidar com os efeitos da publicidade infantil. Ainda mais porque mães e pais estão sobrecarregados com demandas domésticas, profissionais e pessoais. Uma pesquisa estadunidense mostrou que a maioria têm apenas 32 minutos por dia para si mesmos.

Como a publicidade infantil gera estresse familiar

Sempre que uma empresa se comunica com as crianças, a autoridade de pais e mães é automaticamente desrespeitada. Afinal, os responsáveis têm o direito de escolher o que os pequenos e as pequenas vão consumir. E direcionar publicidade para o público infantil, e não para os adultos, é interferir nesse direito.

O que se vê, na prática, são crianças cercadas de publicidade infantil por todos os lados e famílias sendo afetadas diretamente por essa prática, que ocorre tanto nos espaços mais tradicionais de anúncios (como comerciais de TV) quanto nos novos formatos inaugurados pela Internet. Vídeos de unboxing e advergames são exemplos de publicidade dirigida a crianças de maneira velada no ambiente digital.

A situação é ainda mais grave em casos de publicidade infantil realizada em espaços nos quais as crianças estão longe dos pais e das mães, como nas escolas. Às vezes a família nem sabe que as crianças estão sendo expostas a ações publicitárias, até ser tarde demais.

Foi o que aconteceu com um pai de São Paulo quando sua filha voltou da escola com um álbum de figurinhas que havia “ganhado em uma gincana”. Na verdade, tratava-se de uma ação de publicidade infantil no ambiente escolar que estimulava o consumo de produtos e sequer havia sido avisada previamente às famílias e aos responsáveis. Diante das inúmeras denúncias que recebeu, o Criança e Consumo enviou representação ao Ministério Público de São Paulo. Posteriormente, a empresa Panini foi punida.

Tudo isso só reforça a importância de empresas e governos assumirem suas parcelas de responsabilidade no cuidado com as infâncias. Ao invés de dificultar a vida das famílias, iniciativa privada e Estado têm o dever de proteger as crianças. Afinal, elas são prioridade absoluta e devem ser preservadas por toda a sociedade, como determina a Constituição Federal Brasileira.

Conheça outras consequências:

Denuncie!

Qualquer pessoa pode denunciar publicidade infantil, e isso é um instrumento muito importante. Afinal, como determina o art. 227 da Constituição Federal, devemos proteger nossas crianças em uma responsabilidade compartilhada. Isto é, empresas, sociedade e Estado devem fazer seu papel, em um conjunto de esforços, pela defesa da infância!

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