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Foto de Hortaliça e frutas ao fundo de um furacão de notas de dinheiro.

Táticas mercadológicas “mascaram” verdades sobre os alimentos

Foto de Hortaliça e frutas ao fundo de um furacão de notas de dinheiro.

Táticas mercadológicas “mascaram” verdades sobre os alimentos

Empresas aumentam investimento em estratégias que “disfarçam” ações publicitárias para construir novas narrativas sobre seus produtos, e com isso aumentar seu lucro.  

No começo dos anos 2000 fez sucesso entre aqueles que sofriam de intolerância a glúten o consumo da banana como um medicamento natural para tratar o desconforto provocado pelo consumo do glúten. Mas o que muitos pessoas não sabiam era que essa ideia era financiada pela United Fruit Co., o maior comerciante de bananas do mundo. O projeto, que contava com a participação de médicos especialistas, foi elaborado como um grupo de frente pela empresa, para que de maneira “disfarçada” incentivasse o consumo de bananas. Esse caso e outros semelhantes estão no relatório “Spinning Food – How food Insdustry front groups and covert communications are shaping the story of food” desenvolvido pela gerente do programa Friends of Earth, Kari Hamerschlag; pela co-fundadora da organização U.S. Right to Know, Stacy Malkan e pela co-fundadora fo Real Food Media Project, Anna Lappé.

O levantamento mostra que táticas como a utilizada pela United Fruit Co. existem em diferentes setores alimentícios e são cada vez mais frequentes. O documento expõe o crescimento de grupos de frente que se apresentam como independentes, mas que nos bastidores são organizados e financiados por grandes empresas do setor alimentício. O relatório aponta que há um nível sem precedentes de gastos e implantação de um leque cada vez mais diversificado de táticas de comunicação com o objetivo de colocar o produto em pauta na mídia e nas falas dos médicos para que os consumidores acreditem nos seus benefícios, sem desconfiar que o discurso é financiado por uma empresa.

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Os autores apontam que o aumento dos investimentos nessas táticas é uma reação da indústria alimentícia ao crescimento do interesse público na alimentação saudável com base no consumo de produtos orgânicos. O relatório mostra que a população norte-americana está cada vez mais preocupada com o alimento que consome, debatendo sobre os males provocados pelos produtos químicos usados na agricultura, sobre a ingestão dos alimentos ultraprocessados e a valorização do orgânico como alternativa saudável. Estima-se que as vendas de alimentos orgânicos nos Estados Unidos saltem de US$ 35 bilhões em 2013 para US$ 170 bilhões em 2025 – uma ameaça direta para os lucros das indústrias de alimentos processados. Desde 2009, as 25 maiores empresas de alimentos e bebidas – que vendem processados – perderam um equivalente a US$ 18 bilhões em participação de mercado.

Diante dessa ameaça, o setor industrial de alimentos – desde os gigantes da biotecnologia até da indústria animal – está trabalhando para amenizar esse impacto com os esforços de comunicação e com uma nova onda de novos grupos de frente. De 2009 a 2013, 14 grupos gastaram cerca de 126 milhões dólares para moldar um discurso alimentar que colocasse seu produto em evidência. Um exemplo é o grupo Aliança para Alimentar o Futuro que produziu materiais sobre alimentação saudável para escolas públicas dos Estados Unidos e possui entre seus membros empresas que vendem produtos com grande quantidade de adoçantes artificiais e gorduras. Há outras táticas de comunicação que atuam nessa linha, como o pagamento a blogueiros para que promovam seus alimentos de uma maneira que seus leitores não entendam como publicidade, e sim como parte do conteúdo editorial.

Os autores do relatório esperam que o documento inspire os cidadãos a se tornarem consumidores críticos, que ouçam de maneira desconfiada as histórias sobre o consumo dos alimentos. E que fiquem atentos às informações para saber de onde vem e quem está por trás dela. Para a mídia, o relatório recomenda jornalistas procurem conhecer essas táticas e ajudem a “desmascarar” essas estratégias da indústria alimentícia.

No quadro abaixo os principais grupos de frente e as empresas que estão por trás, segundo o relatório:

Top_Table_Spinning_Food

 

Foto: Spinning Food – How food Insdustry front groups and covert communications are shaping the story of food

Publicado em: 13 de julho de 2015

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