A diretora de advocacy do Alana participou de evento global para apresentar o Criança e Consumo e discutir os riscos da publicidade infantil no meio digital.
Está surgindo uma nova geração que se diferencia das demais, principalmente, por conceber o mundo de maneira digital. A geração U é a primeira totalmente digital e com conexão ilimitada, são aqueles que já nasceram na era da internet. Para pensar nas oportunidades e responsabilidades que essas crianças e jovens enfrentam e enfrentarão diante de um mundo conectado, a BBC (emissora pública de rádio e televisão do Reino Unido), junto com outros parceiros, realizou em Manchester, na Inglaterra, o “Children’s Global Media Summit 2017”, entre os dias 5 e 7 de dezembro. A Conferência, que acontece a cada três anos, elegeu como tema norteador os desafios de produzir mídia para crianças em um contexto onde os limites estão em constante transformação.
No dia 6, a mesa “If You Are Not Paying You’re The Product” (“Se você não está pagando você é o produto”, tradução livre) discutiu a possibilidade de criar um espaço seguro para crianças na internet em uma escala global e as realidades comerciais que envolveriam esse ambiente. Participaram da mesa a diretora de Advocacy do Alana Isabella Henriques, o pesquisador David Emm e a gestora pública Jo Pedder, com mediação da jornalista Wendy Grossman.
Em sua apresentação, Isabella Henriques falou do contexto brasileiro e do consumo de mídia pelas crianças. Diferente do que muitos acreditam, aqui no Brasil o tempo médio por dia que elas passam em frente da televisão aumentou nos últimos anos, em 2006 era de 4h30 e em 2014 subiu para 5h35 (Ibope/ Media). Além da televisão, as crianças estão presentes também na internet, mais de 52 bilhões de visualizações no Youtube no Brasil vieram de crianças de zero a 12 anos (ESPMMediaLab2015-2016).
Essas mídias, presentes praticamente todos os dias na vida das crianças, seguem recheadas de estratégias mercadológicas cada vez mais complexas. Estudos apontam que as crianças não diferenciam publicidade de entretenimento e elas não compreendem seu caráter persuasivo. Isabella destacou também, durante sua fala na Conferência, que os impactos negativos da publicidade infantil ultrapassam a esfera familiar ao gerar impactos sociais, ambientais e econômicos. Na última década o tema tem sido abordado por diferentes áreas, criando um consenso na sociedade brasileira: é necessário proteger a criança da publicidade. O Criança e Consumo, programa do Alana, junto com outros atores, vem contribuindo para essa concordância e segue atuando para colocar na agenda nacional o debate sobre o consumismo infantil.
No encerramento da sua apresentação, Isabella defendeu que para garantir uma proteção consistente da criança frente à publicidade é importante a articulação de três fatores: financiamento público, maior responsabilidade das empresas e publicidade direcionada aos adultos. No futuro “é preciso harmonizar os benefícios da tecnologia com a proteção contra o assédio do marketing e pensar nisso juntos, envolvendo sociedade, empresas, mercado e autoridades públicas”, finalizou Isabella.
O evento contou também com a participação do príncipe William, membro da família real inglesa, que lançou a campanha “Own it” em parceria com a BBC para ajudar crianças e adolescentes vítimas de cyberbullying (o discurso completo dele está disponível em inglês aqui). Atualmente a BBC tem dois canais para crianças que são 100% livres de publicidade e são líderes na audiência infantil do Reino Unido.
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